RECEITA
DE BOLO
A criação de qualquer romance que
consiga comover os corações de milhões de leitores no mundo inteiro deve
envolver um elemento de magia indescritível, semelhante de certa forma à alma
humana. O milagre da engenharia divina ou evolucionária resultou num corpo
humano com incontáveis órgãos, glândulas, ossos, veias e tecidos que podem ser
radiografados, aparecer numa ultra-sonografia, serem examinados
microscopicamente. A ciência pode determinar as qualidades que distinguem o que
está doente do que é saudável, o fraco do forte. Com a ficção, também é possível remover a superfície das palavras
individuais e mostrar como um romance espetacular é construído, igual a um
relógio, com uma porção de peças interligadas, todas as quais são necessárias
para moverem umas às outras. Nos romances mais amados, essas partes são
projetadas de uma maneira que por um lado é singular, mas por outro parece
seguir determinadas regras.
ALTAS
APOSTAS
Está
em jogo algo da maior importância — para um personagem, uma família, às vezes
uma nação inteira. A vida de pelo menos um personagem destacado corre
perigo. O indivíduo em perigo costuma representar não apenas ele próprio, mas
uma comunidade, uma cidade, todo um país.
Em
muitos grandes romances de mulheres, no entanto, o que está em jogo não é vida ou morte, mas a realização pessoal, como acontece com
Scarlett em E o Vento Levou. Essa perspectiva — a consumação ou não de um relacionamento
amoroso — possa parecer por si mesma trivial, da vida cotidiana, os desejos,
anseios e paixões dessas heroínas recebem de suas criadoras uma intensidade tão
vigorosa e inexorável que o que está em jogo para elas parece ao leitor tão
poderoso quanto um homicídio ou uma catástrofe nacional.
Ex.:
1-Feliks, O
Homem de São Petersburgo, como caçador, se tiver êxito, não apenas mata um
homem, mas com isso também impede que a Rússia se alie à Inglaterra contra a
Alemanha; salvará assim milhões de seus jovens compatriotas de serem mortos
numa guerra insana. Para Lorde Walden e os agentes britânicos que perseguem
Feliks, as apostas são altas. Se conseguirem proteger o príncipe russo, não
salvam uma vida humana, preservam uma aliança com o Czar, ao mesmo tempo, salvam sua amada Inglaterra de ser dominada
pelo Kaiser.
PERSONAGENS
MEMORÁVEIS
Personagens memoráveis. Os
personagens na ficção, como na vida, são definidos pelo que fazem, e nos grandes romances os personagens
principais fazem coisas extraordinárias.
Ex.:
1-Don
Corleone em O Poderoso Chefão deseja um papel num grande filme de
Hollywood para seu afilhado. O diretor do estúdio, indignado por ser sutilmente
ameaçado, rejeita o pedido. O Don, para
demonstrar seu poder e determinação, providencia para que o grande troféu do
executivo, um cavalo de corrida vitorioso, seja morto, e sua cabeça cortada
posta na cama do homem. Virtual poder absoluto sobre seus parentes,
servidores e extensas áreas de empreendimentos ilícitos.
2-E o Vento
Levou, Scarlett é apresentada como uma adolescente, volúvel, irreverente,
egoísta e mimada. Quando a maré da guerra vira contra a Confederação, e
Atlanta, um inferno, está sendo invadida, Scarlett encontra a mãe morta, pai
senil, irmãs acamadas, plantação devastada, não há dinheiro, nem comida. Ela, que nunca trabalhara, reúne energia e
coragem para arar os campos e obrigar os criados rebelados e as irmãs a
ajudarem. Quando um ianque ameaçador invade a casa,tem a presença de espírito
de pegar uma pistola, e depois encontra coragem para atirar no ladrão. O
meio que lhe ocorre para não perder sua amada plantação, pelo não pagamento de
impostos, é persuadir Rhett Butler a
casar com ela. Mas não se apresenta como uma suplicante. Ela corta as cortinas
de veludo de sua mãe para fazer um vestido, a fim de poder se apresentar a ele
como uma rainha concedendo favores.
A
QUESTÃO DRAMÁTICA
O personagem conseguirá fazer o que
precisa? Conquistará o que necessita? Se tornará e terá seu anseios pessoais
realizados? O que ele precisa acontecerá. Como seu aliados colaborarão e seus
inimigos o atrapalharão?
A Questão Dramática do início ao
fim gira em torno disso. A expectativa
crescente, de que o protagonista consiga o que quer, passando por obstáculos e
mais obstáculos, até o clímax — o obstáculo derradeiro, o tudo ou nada!
O
Protagonista conseguirá ou o Antagonista o impedirá? Sobre os personagens que
se opõe, quem vencerá?
À primeira vista podem parecer
complicadas. Em E o Vento Levou, por exemplo, seria longa e complexa. Uma
análise cuidadosa, revelaria que a Espinha Dorsal — o conflito central
persistente, em torno do qual os personagens principais interagem, a questão
fundamental que impulsiona e integra suas incontáveis cenas — não poderia ser
mais básica e definida. Essa fundação é o fator de suspense, que eu chamo de
Questão Dramática.
Ex.:
1-E o Vento
Levou há três questões dramáticas: Scarlett conseguirá fazer com que Ashley
retribua seu amor? E mais adiante, depois que se torna evidente que Ashley não
é o homem certo para ela: Scarlett reconhecerá que na verdade é Rhett quem ela
ama? E Rhett algum dia conseguirá conquistar o amor dela?
2-Em O Buraco
da Agulha, é o seguinte: Needle conseguirá escapar para a Alemanha com os
planos aliados para a invasão no Dia-D, ou os agentes britânicos conseguirão
pegá-lo antes?
3-O
Dia do Chacal, gira em torno de uma tentativa de assassinar
Charles de Gaulle. Aqui, a questão dramática é bem simples: O Chacal conseguirá liquidar o presidente francês, ou o inspetor de
polícia, em seu encalço, poderá descobri-lo primeiro, e evitar que isso
aconteça?
Não apenas os grandes livros, mas
também os romances de gênero e as obras românticas, também são estruturados
sobre uma questão dramática expressa: O detetive vai encontrar o assassino? A
heroína vai se unir ao homem de seus sonhos? Esses livros carecem de outras
características do grande romance.
ALTO
CONCEITO
Alto conceito é questão dramática forte, que possibilita produzir um grande livro.
Em essência uma premissa radical ou
mesmo um tanto extravagante.
O ponto a ressaltar aqui é que os
grandes livros precisam ser construídos sobre situações bastante dramáticas, tramas que incluem ações bizarras e
surpreendentes, e que levam a uma vigorosa confrontação depois de outra.
Ex.:
1-Stephen
King é o que autor concebe tramas mais extravagantes. Sua habilidade, por um
lado, em recria os diálogos e detalhes da vida cotidiana, e por outro, orquestrar
sua história com um nível tão grande de emoção que, apesar dos elementos de
fantasia, suspendemos na maior felicidade nossa incredulidade.
2-Pode um
jovem advogado escapar de uma firma de advocacia que parece respeitável, mas
secretamente lava dinheiro para a Máfia, cujos assassinos liquidam qualquer
advogado que sequer fale em tentar se afastar? Temos aí a questão dramática e o
alto conceito de A Firma, de John Grisham.
MÚLTIPLOS
PONTOS DE VISTA
Envolve
emocionalmente o leitor com mais de um personagem. Não é
primariamente narrada por um autor onisciente ou por um único personagem no
romance, na primeira pessoa, mas, se expressa
pelos sentimentos, pensamentos e sensibilidades do núcleo principal personagens.
Não é a voz do autor que descreve, em vez disso, somos levados a perceber e experimentar o mundo singular criado através
dos próprios sentidos dos personagens. Só seus sentimentos e emoções
proporcionam a luz, às vezes distorcida, mas em geral intensa, pelo qual o
vemos e aos outros personagens com que se relaciona.
Ex.:
1-Em
O Homem de São Petersburgo, Cada capítulo, em sua totalidade ou em parte, é
escrito exclusivamente do ponto de vista de um dos quatro personagens principais. A ação de
Follett permanece eletrizante, aquele que tem o maior envolvimento emocional,
que tem mais em jogo no que está acontecendo. Quando Feliks é perseguido por
Londres, com um medo desesperado de ser alcançado, experimentamos a fuga
frenética através de sua sensibilidade.
O desenvolvimento da história
através dos sentimentos profundos, esperanças e anseios de cada uma dos personagens,
com antecedentes e personalidades muito diferentes, proporciona complexidade e
riqueza psicológica, um mini-espectro de cores ausente quando, relatada de um único
ponto de vista. Como escrever quatro estórias separadas, que a todo instante
colidiam em cruzamentos dramáticos essenciais.
CENÁRIO
Os leitores gostam de escapar para as mentes, corações e vicissitudes
de personagens fictícios, mas também gostam
de ser atraídos para ambientes novos e desconhecidos, até exóticos.
Passamos por lugares de uma forma
quase regular, pouco ou nada sabemos sobre bastidores, problemas cotidianos, complexidades
técnicas. Acrescentada a uma boa
história, essa massa de informações torna-se uma experiência de aprendizado
e os leitores são pessoas que gostam de aprender.
Ex.:
1-Em, A Caçada ao Outubro Vermelho, de Tom
Clancy, provavelmente contém tantas
informações técnicas sobre submarinos e guerra submarina quanto se poderia encontrar num manual da
Academia Naval.
ADVERTÊNCIA
Ficção
é uma arte, e, não matemática. É possível expor e analisar de uma
forma meticulosa os elementos, técnicas e estruturas com que a maioria dos best-sellers
foi desenvolvida. Na arte, não há regras
precisas. Se um autor é brilhante para fazer com que seu livro dê certo, ignorando
o que é aceito como elementos fundamentais do Best-seler, então, tudo bem.
Sugiro vários pontos de vista de
personagens para um grande romance, em geral pelo menos três. Dois dos romances
mais maravilhosos e bem-sucedidos, Acima de Qualquer Suspeita e O Ônus da Prova,
de Scott Turow, foram escritos exclusivamente do ponto de vista de um único
personagem.
Para o romance ser grande, o leitor
deve ter empatia (ou melhor, gostar intensamente) com um dos personagens
principais, até mesmo dois ou três. Em A Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe, linha
a linha, seu texto transborda de espírito, insinuações, uma linguagem fresca e
brilhante, com uma trama intrincada; o pano de fundo da história, em detalhes
reveladores, resumia os excessos da década de 1980. Sua sátira funcionou, e, a
regra não.
O
que está em jogo na minha história é monumental, pelo menos para meus
personagens principais? Estou criando um personagem (ou talvez dois) que seja
extraordinário de alguma forma, até memorável? O rumo de meu romance pode ser
resumido numa questão dramática simples, mas forte? Minha trama se desenvolve
em torno de um conflito de alto conceito, como os que se encontra em quase
todos os livros de Sidney Sheldon ou Michael Crichton? Estou desenvolvendo pelo
menos um personagem (e de preferência mais de um) com o qual o leitor se
tornará emocionalmente envolvido? Estou situando meus personagens num ambiente
que é de algum modo insólito ou excitante, um ambiente que fará o leitor sentir
que está ingressando num cenário único?
Eu sempre escrevo o que eu acredito que possa ser realidade. Não sou contra Ficção e não acho mentira, mas se não me emocionar e se eu não disse: "Isso é possível!", aí então eu não escrevo mais. Por isso gosto de escrever sobre romance, drama e histórias de vida. Eu acho interessante e já dei a dica a algumas pessoas, é o seguinte: COMECE SUA HISTÓRIA SEMPRE DE TRÁS PARA FRENTE COLOCANDO A IDÉIA NO PAPEL. DEPOIS QUE O ESBOÇO ESTIVER FEITO, AÍ SIM, PARTA PARA ESCREVER O LIVRO. Se puder, visite meu Blog.... http://soletrandoavida.blogspot.com.br/
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